A distorção do significado do amor

 

Quando criança, eu odiava filmes de romance. Achava tudo aquilo um nojinho e dizia que nunca iria me casar – ou namorar. Pois bem, ainda hoje eu não gosto de filmes de romance romântico, mas agora eu entendo porque tanta gente ama. A questão é que acreditam que casais são sinônimo de um peculiar sentimento chamado amor. Eu não compactuo com essa ideia, nem nunca compactuei.

Depois, quando o meu corpo se alongou mais um pouco, ouvi muitas histórias de “amor” sob os olhos de gente desesperançosa. Era o amor não presta pra cá, o amor é sofrimento pra lá, e eu nunca entendia. Afinal, essas pessoas que repetiam frases prontas sobre o amor realmente haviam conhecido ele? Eu achava que não.

Poucos são os casais, nas mais diversas formas, que têm aquele brilho no olhar. Muitos são os maridos moralistas que olham para a bunda de uma mulher na rua e deixam as esposas recatadas sofrerem caladas. Muitas são as esposas que acreditam que aquilo é amor. Muitos são os homens que casaram com mulheres por obrigação, sendo que gostavam de homens. Muitas são as mulheres que casaram com homens por obrigação, sendo que gostavam de mulheres. O resultado de todas essas distorções é a falta de esperança no amor.

Crianças expostas a essas verdades prontas acabam repetindo padrões de distorção. O amor não existe para elas, apenas o desejo. O normal é o superficial, o estranho é o profundo. Por isso, adolescentes vivem se magoando ao esperar ou o príncipe encantado ou a mulher submissa.

Agora, olho os filmes e livros de romance como produtos de mentes esperançosas, e vejo o amor não como esse sentimento único e exclusivo entre casais, característico do desejo sexual ou dessas coisas que envolvem trocas de fluidos corporais. O amor é bem mais profundo e vasto, e, com toda a clareza desse mundo, o oceano é muito pequeno para gerar uma analogia perfeita.

Também encontrei definições de amor em religiões cujos mestres foram esquecidos pelos próprios fieis – mesmo que eles não saibam disso. Disseram que esse amor era como uma troca, uma servidão, uma submissão a um deus que diz que nos ama. Pois bem, sei que existe uma força que nos ama, mas não é como essa ensinada por muitas escrituras antigas que foram distorcidas, junto com o amor, pelo tempo e pela mente.

Amor é como uma ternura universal. Não apenas entre casais, não apenas entre humanos, não apenas entre animais. O amor é o conjunto de todas as virtudes. Da ternura gerada ao admirar uma árvore; da resiliência em superar todos os problemas; da vontade de acender a luz e iluminar outros corações; da clareza mental de saber que nem sempre a razão tem razão. O amor é essa força que une tudo, que nos lembra do bom clichê de sermos todos um.

Nem sempre aquela pessoa rude é alguém sem amor

Nem sempre aquela pessoa doce é alguém com amor

Essas são apenas características do ego

Que encaixotam o amor

E oferecem em embalagens cujo preço é o esquecimento

Se me perguntassem qual a minha religião, diria que é o amor. Se me perguntassem se estou apaixonado, diria que sim. Pois quem tem amor vive apaixonado. Vemos agora outra palavra distorcida: paixão. Estar apaixonado não significa estar amando alguém na espera de troca de fluidos corporais, apenas. Significa entender que não há diferença alguma entre nenhuma manifestação da vida, seja ela um animal, uma planta ou um ser humano.

sss

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