As coisas sem nome são mágicas. Quando as coisas que hoje têm nome não eram nomeadas também eram mais mágicas. O significado não precisa do nome, mas o nome precisa de um significado, e é nessa significação que tudo fica insignificante.
Veja só o afeto. Afeto quer dizer afeição, amizade, empatia, essas coisas. O afeto, antes de receber esse nome, era mais sincero. Não era explicado, era praticado. Não havia desambiguações, nem antônimos. Só sinônimos. O afeto, quando era só o abraço, o carinho, o ato de colocar-se no lugar do outro, a compreensão, era mais sincero. Tinha aquele mistério, tinha aquela busca em saber como se chama isso, o que significa isso. Quando nomearam, quando colocaram o nome desse sentimento de afeto, surgiram tantos homônimos e antônimos que tornaram o afeto desafetuoso.
O amor é o sentimento que mais sofreu com os nomes. Antes de se chamar assim, englobava em seu campo de significados tudo o que era bom. Tinha o respeito, a generosidade, a paciência, e o afeto, inclusive. Quando o campo de nomes veio em cima desse sentimento, todos os antônimos e homônimos vieram. O ódio virou tendência e a obsessão, justificativa para a confusão.
Quando os sentimentos não tinham nomes, seu sentido era mais visível. Para desmistificar o que não tinha nome era necessário agir, pôr em prática todos os significados. Quanto ao amor, era só respeito, gratidão, entendimento. Para expressá-lo era até mais fácil, bastava sentir, pois o sentimento é feito para ser sentido, não entendido. Por isso, quando nomeamos as coisas, acabamos criando também todos os antônimos, gerando medo. Ah, outra palavra que surgiu depois das nomeações, o medo. Antes, a coragem reinava absoluta, enquanto esse medo vivia escondido. Isso quer dizer que, quando nomeamos a coragem, um de seus antônimos, o medo, veio junto, trazendo consigo o medo de sentir.
Talvez o problema seja esse. Quando nomeamos os sentimentos, descobrimos que os seus opostos negativos existiam, e eles nos consumiram.